Diagnóstico da Tontura: Entendendo o Processo Passo a Passo

Explore os métodos de diagnóstico da tontura, incluindo anamnese, exames físicos, audiometria, vHIT, VEMP, e mais. Descubra como testes neurológicos e exames de imagem aprofundam a investigação para um tratamento eficaz.

 

A tontura é uma queixa comum que pode ter um grande impacto na qualidade de vida, mas identificar a causa exata pode ser um desafio. O diagnóstico da tontura começa com uma abordagem metódica, na qual a anamnese e o exame físico desempenham papéis cruciais. Este artigo explora o processo detalhado usado pelos médicos para diagnosticar a tontura, enfatizando a importância de uma avaliação personalizada e os exames específicos que podem ser necessários.

A Anamnese: A Primeira Etapa no Diagnóstico da Tontura

A anamnese é, sem dúvida, o aspecto mais vital no diagnóstico da tontura. Durante essa fase, o médico vai investigar detalhadamente o histórico médico do paciente e a descrição dos sintomas. Aspectos específicos que podemos analisar incluem:

  • Duração e frequência dos episódios de tontura: Entender quando a tontura ocorre e por quanto tempo dura cada episódio.
  • Natureza dos sintomas: Se a tontura é do tipo vertigem (sensação de movimento ou rotação) ou se é uma sensação de desequilíbrio ou sensação de cabeça leve.
  • Fatores desencadeantes: Identificação de atividades ou condições que precipitam os episódios.
  • Sintomas associados: Presença de náuseas, vômitos, perda de audição, zumbido no ouvido ou neurologicamente relacionados como dificuldade de fala ou alterações na visão.

Essas informações ajudam o médico a determinar a provável causa da tontura e a direcionar os exames subsequentes.

Exame Físico: Avaliando o Sistema Vestibular e Neurológico

Após a anamnese, segue-se um exame físico minucioso. Este exame pode incluir:

Testes de equilíbrio e marcha:

No diagnóstico da tontura, os testes de equilíbrio e marcha são essenciais para avaliar como o sistema vestibular e neurológico do paciente estão funcionando. Entre os testes mais utilizados estão o Teste de Romberg, o Teste de Fukuda-Unterberger e o Teste de Babinski-Weil, cada um oferecendo insights valiosos sobre as capacidades motoras e de orientação espacial do paciente.

  • Teste de Romberg: O Teste de Romberg é fundamental para avaliar o equilíbrio estático. Durante este teste, o paciente é solicitado a permanecer de pé, com os pés juntos e os braços ao lado do corpo, primeiro com os olhos abertos e depois com os olhos fechados. O médico observa a capacidade do paciente de manter a posição sem oscilar ou cair. A deterioração do equilíbrio ao fechar os olhos sugere problemas no sistema vestibular ou proprioceptivo, pois o paciente não pode mais confiar na visão para compensar outras deficiências sensoriais.
  • Teste de Fukuda-Unterberger: O Teste de Fukuda-Unterberger, também conhecido como teste de marcha estacionária, avalia o equilíbrio dinâmico. O paciente é instruído a marchar no lugar por um determinado período, geralmente cerca de 50 passos, com os olhos fechados e os braços estendidos. O médico avalia a tendência do paciente em desviar-se de uma linha reta. Desvios significativos podem indicar anormalidades no ouvido interno ou disfunção do sistema vestibular central.
  • Teste de Babinski-Weil: O Teste de Babinski-Weil é uma variação que avalia mais diretamente a marcha e o equilíbrio. O paciente é solicitado a caminhar em linha reta por uma certa distância, alternando entre olhos abertos e fechados. Este teste ajuda portanto, a identificar assimetrias na marcha e potenciais problemas no equilíbrio que podem não ser evidentes no Teste de Romberg.
No teste de Romberg, verificamos se a pessoa consegue se manter em equilíbrio sem a informação visual.
No teste de Romberg, verificamos se a pessoa consegue se manter em equilíbrio sem a informação visual.
Avaliação dos olhos:

A avaliação dos olhos, especialmente a observação de nistagmo, é uma parte crucial no diagnóstico da tontura. O nistagmo, que é uma oscilação involuntária dos olhos, muitas vezes está relacionado a condições do sistema vestibular, sendo essencial para entender as causas subjacentes da tontura.

  • Nistagmo: O nistagmo envolve movimentos rítmicos rápidos de um ou ambos os olhos, que podem ser horizontais, verticais ou rotatórios. Esses movimentos podem ser espontâneos ou induzidos por posições específicas ou por testes vestibulares. A direção, velocidade e amplitude do nistagmo fornecem informações valiosas sobre a parte do sistema vestibular que pode estar afetada.
  • Significado Clínico do Nistagmo: A presença, tipo e características do nistagmo podem ajudar a distinguir entre várias condições neurológicas e do ouvido interno. Por exemplo:
    • Nistagmo Horizontal: Comum em distúrbios do ouvido interno, como a doença de Ménière.
    • Nistagmo Vertical ou Rotatório: Pode indicar uma possível patologia no tronco cerebral ou no cerebelo.
    • Nistagmo Posicional: Ocorre quando o paciente muda a posição da cabeça e é típico de vertigem posicional paroxística benigna (VPPB).

 

Exame otológico:

Verificação de problemas no ouvido interno, principalmente as inflamações, ou otites, que é uma causa comum de vertigem.

Testes neurológicos:

Os testes neurológicos são cruciais para avaliar as funções dos sistemas nervoso central e periférico na investigação da tontura. Incluem:

  • Avaliação dos Reflexos: Verifica a integridade das vias nervosas.
  • Testes de Coordenação: Como o teste dedo-nariz, para identificar problemas cerebelares.
  • Testes de Força e Sensibilidade: Medem a força muscular e a sensibilidade sensorial.

 

Exames Complementares no Diagnóstico da Tontura

Dependendo dos resultados da anamnese e do exame físico, o médico pode solicitar uma série de exames específicos para cada paciente. Estes incluem:

Audiometria:

A audiometria é um exame fundamental no diagnóstico de condições que afetam tanto a audição quanto o equilíbrio, pois muitas das estruturas responsáveis pela audição também desempenham papéis importantes no sistema vestibular. O teste avalia a capacidade auditiva do paciente e ajudar a detectar possíveis anormalidades no ouvido interno, que podem estar relacionadas à tontura.

  • Como é Realizada a Audiometria?
    • Audiometria Tonal: Mede a capacidade de ouvir sons em diferentes volumes e frequências. O paciente usa fones de ouvido, e são tocados tons em frequências variadas. O paciente então, indica quando pode ouvir cada som, ajudando a mapear sua capacidade auditiva em diferentes frequências.
    • Audiometria Vocal: Avalia a capacidade de entender a fala. Palavras são reproduzidas para o paciente, que deve repeti-las. Isso ajuda a identificar problemas na compreensão de palavras em ambientes silenciosos e ruidosos.
  • Importância da Audiometria no Diagnóstico da Tontura: A audiometria pode revelar perda auditiva associada a distúrbios do ouvido interno, como a doença de Ménière, que frequentemente envolve episódios de vertigem além de alterações auditivas. Ao correlacionar a perda auditiva com os sintomas de tontura, os médicos podem chegar a um diagnóstico mais preciso das condições subjacentes, permitindo um tratamento mais efetivo. Este teste é crucial porque o ouvido interno é responsável não só pela audição, mas também pelo equilíbrio, e disfunções nesta área podem causar tanto perda auditiva quanto desequilíbrio.
Um dos exames que podemos solicitar para o diagnóstico da tontura é a audiometria.
Exame de Audiometria
Eletronistagmografia:

A Eletronistagmografia (ENG) é um teste diagnóstico especializado que avalia o funcionamento do sistema vestibular, o qual é crucial para manter o equilíbrio e a orientação espacial. O ENG é particularmente valioso para investigar a causa da tontura e da vertigem, proporcionando informações detalhadas sobre a integridade do reflexo vestibulo-ocular. Este reflexo é essencial para estabilizar a visão quando a cabeça se move, permitindo que o indivíduo mantenha o foco visual durante o movimento.

  • Como é Realizado o ENG: O teste ENG envolve a colocação de eletrodos ao redor dos olhos do paciente. Estes eletrodos detectam os movimentos elétricos gerados pelos músculos oculares durante os movimentos oculares. Durante o teste, o paciente realiza uma série de exercícios visuais e físicos enquanto o aparelho registra os movimentos dos olhos. Estes exercícios podem incluir:
    • Seguir visualmente um objeto em movimento: Para avaliar como os olhos acompanham objetos em movimento.
    • Posicionamento da cabeça: O paciente pode ser solicitado a mover a cabeça em diferentes posições para avaliar a resposta do sistema vestibular a mudanças na orientação da cabeça.
    • Testes Calóricos: Inserção de água fria ou quente nos ouvidos para estimular o ouvido interno e observar as reações, como nistagmo, que é o movimento involuntário dos olhos.
  • Importância do ENG no Diagnóstico da Tontura: A eletronistagmografia é particularmente útil para diagnosticar distúrbios como a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) e a doença de Ménière. O teste ajuda a identificar anormalidades específicas no funcionamento do sistema vestibular que podem estar contribuindo para os sintomas de tontura e vertigem:
    • Identificação de Nistagmo: O ENG é eficaz na detecção de padrões anormais de nistagmo que são indicativos de problemas vestibulares.
    • Avaliação de Disfunções Bilaterais: Pode-se avaliar se ambos os lados do sistema vestibular estão funcionando de forma adequada, o que é crucial para o equilíbrio geral.

 

V-HIT:

O teste de Impulso de Cabeça com Registro de Vídeo, conhecido como vHIT, é uma ferramenta diagnóstica moderna utilizada para avaliar o reflexo vestibulo-ocular, que é essencial para manter a estabilidade visual durante os movimentos rápidos da cabeça. Dessa forma, este teste é particularmente valioso no diagnóstico de disfunções do sistema vestibular, especialmente em casos em que os testes mais tradicionais não conseguem detectar anormalidades sutis.

  • Como é realizado o vHIT:  Durante o vHIT, o paciente usa óculos especiais equipados com uma câmera de alta velocidade que registra os movimentos dos olhos. Enquanto o paciente está sentado, o médico realiza movimentos rápidos e pequenos da cabeça do paciente em diferentes direções. O objetivo é deslocar rapidamente a cabeça enquanto o paciente tenta manter o olhar fixo em um ponto à frente. O vHIT mede a capacidade dos olhos de manter o foco no alvo durante esses movimentos rápidos da cabeça.
  • Importância do vHIT no Diagnóstico da Tontura
    • Detecção de Disfunções Vestibulares: O vHIT é eficaz na identificação de problemas no sistema vestibular, especialmente em casos de disfunção dos canais semicirculares, que podem não ser aparentes em outros testes como a videonistagmografia ou a eletronistagmografia.
    • Avaliação de Cada Canal Semicircular: O teste permite uma avaliação específica de cada um dos seis canais semicirculares do sistema vestibular, oferecendo assim, uma visão detalhada sobre qual parte do sistema pode estar comprometida

 

O V-HIT é um dos exames mais novos usado para investigação do funcionamento do labirinto.
O exame do V-HIT usa uma espécie de óculos para analisar o labirinto
Potenciais Evocados Miogênicos Vestibulares (VEMP):

O VEMP é um exame diagnóstico usado para avaliar a função dos nervos e músculos associados ao sistema vestibular. Especificamente, ele testa as partes do ouvido interno responsáveis pelo equilíbrio. O VEMP é crucial para identificar disfunções sáculo-coliculares e utrículo-oculares, ajudando no diagnóstico de doenças como por exemplo, a doença de Ménière e a deiscência de canal semicircular superior. O teste é rápido, não invasivo e fornece informações valiosas sobre a integridade das vias vestibulares inferiores e superiores.

Exames de Sangue:

Podemos solicitar exames de sangue para descartar causas metabólicas ou infecciosas de tontura.

  • Distúrbios Metabólicos: Como diabetes e problemas tireoidianos, que podem afetar o equilíbrio., que são inclusive causas muito comuns de tontura.
  • Deficiências Nutricionais: A falta de vitaminas B12, D e ferro podem causar sintomas de tontura.
  • Infecções: Indicadores de infecção, como elevação dos glóbulos brancos, podem sugerir uma causa infecciosa.
  • Problemas Cardiovasculares: Análises como colesterol e triglicerídeos altos podem indicar riscos que também afetam o equilíbrio.

 

Exames de Imagem:

Exames de imagem como a ressonância magnética (MRI) e a tomografia computadorizada (CT) são fundamentais para visualizar estruturas cerebrais e do ouvido interno no diagnóstico da tontura. Eles ajudam a identificar anormalidades estruturais, tumores, inflamações ou lesões que podem estar causando os sintomas. A MRI é especialmente útil devido à sua alta resolução para tecidos moles, enquanto a CT é rápida e eficaz para detectar problemas ósseos. Ambos são essenciais para um diagnóstico preciso quando suspeitas neurológicas ou complexas estão envolvidas.

Cada um desses testes é escolhido com base nas necessidades individuais do paciente e nas suspeitas clínicas do médico, garantindo assim, uma abordagem personalizada no diagnóstico da tontura.

Com a Ressonância, podemos avaliar alterações nas estruturas do ouvido ou do cérebro.
Com a Ressonância, podemos avaliar alterações nas estruturas do ouvido ou do cérebro.
Conclusão

O diagnóstico da tontura é um processo que exige atenção aos detalhes e uma abordagem sistemática. A anamnese e o exame físico são fundamentais para guiar os exames complementares, que o médico solicitará conforme a necessidade de cada caso. Compreender esse processo não só aumenta a conscientização sobre as possíveis causas e exames relacionados à tontura, mas também reforça a importância de procurar avaliação médica especializada quando necessário. Ao seguir estas etapas, os médicos podem fornecer um diagnóstico preciso e, consequentemente, um plano de tratamento eficaz, resolvendo um problema que afeta significativamente a vida de muitos indivíduos.

 

Leia mais:

Guia Completo Sobre Tontura: Causas, Sintomas e Tratamentos

 

 

Escrito por Dr. Douglas Ribeiro

Otorrinolaringologista. com foco no tratamento da tontura e zumbido
CRM-SP 163.108 / RQE 67.472

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