Tontura Pós-COVID-19: O Que Sabemos Até Agora

Introdução

A pandemia de COVID-19 trouxe inúmeros desafios e, à medida que avançamos para uma era pós-pandemia, novas complicações de saúde estão surgindo. Entre elas, a tontura pós-COVID-19 tem se destacado como uma condição que afeta significativamente a qualidade de vida de muitos pacientes recuperados. De acordo com uma meta-análise publicada na Canadian Journal of Neurological Sciences, aproximadamente 12,20% dos pacientes que se recuperaram da COVID-19 relataram sintomas de tontura e desequilíbrio meses após a infecção (1). Essa preocupação crescente levanta a questão: por que a COVID-19 está causando tontura e como podemos tratar essa condição?

 

A Pandemia de COVID-19 e Suas Sequelas

A pandemia de COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, teve um impacto profundo em todo o mundo desde seu início em dezembro de 2019. Os sintomas variam amplamente, incluindo febre, tosse, falta de ar, fadiga, perda de paladar e olfato, dores musculares, dor de cabeça e, em casos graves, dificuldade respiratória e pneumonia. A gravidade da doença varia desde casos assintomáticos até casos críticos que exigem hospitalização.

O impacto foi além dos sintomas físicos. O medo e a incerteza tomaram conta da população global, com notícias diárias de aumento no número de casos e mortes, levando ao colapso dos sistemas de saúde em várias partes do mundo. As televisões mostravam hospitais lotados, profissionais de saúde exaustos e cidades vazias devido aos lockdowns. A pandemia trouxe um enorme peso emocional e psicológico para todos.

Milhões de pessoas ficaram isoladas em suas casas, enfrentando o medo constante de contrair o vírus e a preocupação com seus entes queridos. As ruas ficaram desertas, e a ausência do convívio social, o fechamento de escolas e comércios trouxeram um sentimento de desolação. A incerteza sobre o futuro e a constante exposição a notícias alarmantes aumentaram significativamente os casos de ansiedade e depressão.

E como se não bastasse todo esse estrago, muitas pessoas que sobreviveram ao covid ficaram com algumas sequelas, que duraram bastante tempo. |Outros ainda sofrem com elas.

Principais Sequelas da COVID-19

Mesmo após a recuperação, muitos pacientes continuam a experimentar uma variedade de sintomas. Aqui estão as principais sequelas do pós-COVID-19:

  1. Fadiga: Cerca de 49% dos pacientes relatam cansaço extremo que pode durar semanas ou meses, dificultando a realização de tarefas diárias.
  2. Falta de ar: Aproximadamente 38% das pessoas têm dificuldade em respirar, especialmente durante atividades físicas, o que pode limitar a capacidade de realizar exercícios e outras atividades.
  3. Névoa cerebral: Cerca de 30% dos pacientes experimentam dificuldades de concentração e problemas de memória, o que pode afetar o desempenho no trabalho e nos estudos.
  4. Dor no peito e garganta: Cerca de 16% relatam dor persistente no peito ou na garganta, o que pode ser desconfortável e preocupante.
  5. Tosse: Aproximadamente 20% dos pacientes continuam a ter tosse persistente, mesmo após a recuperação da fase aguda da doença.
  6. Dores musculares e articulares: Cerca de 20% dos pacientes relatam dores contínuas nos músculos e nas articulações, dificultando a movimentação e causando desconforto.
  7. Perda de paladar e olfato: Aproximadamente 9% ainda sofrem com a perda de paladar e olfato, o que pode impactar a alimentação e o prazer de comer.
  8. Tontura: Cerca de 12,20% dos pacientes experimentam tontura e desequilíbrio, o que pode dificultar atividades simples como caminhar ou levantar-se.
  9. Distúrbios do sono: Cerca de 12% têm dificuldades para dormir ou insônia, o que pode afetar a saúde geral e o bem-estar.
  10. Ansiedade e depressão: Aproximadamente 15% dos pacientes relatam sintomas de ansiedade e depressão, muitas vezes agravados pelo isolamento e pelo impacto emocional da pandemia.

 

 

A tontura é uma das sequelas comuns no pós-covid
A tontura é uma das sequelas comuns no pós-covid

Tontura como Sequela da COVID-19

A tontura é uma das várias sequelas que podem afetar pacientes após a recuperação da COVID-19. Cerca de 12,20% dos pacientes relatam sentir tontura e desequilíbrio, que podem persistir por semanas ou até meses após a infecção inicial.

Inflamação e Danos no Sistema Vestibular

A COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, pode afetar o sistema vestibular, que é responsável pelo equilíbrio e coordenação. Estudos indicam que o vírus pode causar inflamação no nervo vestibular, conhecido como neurite vestibular, resultando em sintomas de vertigem e desequilíbrio. A inflamação é uma resposta comum do corpo à infecção viral e pode afetar as estruturas internas do ouvido que regulam o equilíbrio.

Resposta Imunológica

A resposta imunológica exagerada ao vírus, conhecida como “tempestade de citocinas”, também pode contribuir para a tontura. Durante essa resposta, o corpo libera grandes quantidades de proteínas inflamatórias (citocinas) e que assim podem afetar o sistema nervoso, incluindo as vias que controlam o equilíbrio.

Problemas de Fluxo Sanguíneo

A formação de microtrombos (pequenos coágulos sanguíneos) durante a infecção por COVID-19 é outra possível causa de tontura. Esses coágulos podem prejudicar o fluxo sanguíneo para o ouvido interno e o cérebro, levando a uma sensação de tontura ou vertigem. A isquemia, ou falta de fluxo sanguíneo adequado, pode causar danos aos tecidos e afetar a função vestibular.

Persistência dos Sintomas

A tontura pós-COVID-19 pode persistir por semanas ou meses após a recuperação inicial da infecção. Isso se deve, em parte, aos danos duradouros causados pelo vírus ao sistema vestibular e à resposta inflamatória contínua do corpo. Estudos têm mostrado que a tontura pode ser um sintoma de longa duração, afetando a qualidade de vida dos pacientes e requerendo tratamento contínuo.

Diferenças da Tontura Pós-COVID-19 para Outros Tipos de Tontura

A tontura pós-COVID-19 apresenta algumas características específicas em comparação com outros tipos de tontura:

  • Duração Prolongada: A tontura pode durar semanas ou meses, enquanto outros tipos de tontura, como a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), tendem a ter episódios mais curtos.
  • Sintomas Associados: Além da tontura, pacientes pós-COVID-19 frequentemente relatam fadiga, falta de ar e dificuldades de concentração, o que pode agravar a sensação de desequilíbrio.
  • Multifatoriedade: A tontura pós-COVID-19 pode resultar de uma combinação de fatores, incluindo inflamação, resposta imunológica e problemas de fluxo sanguíneo, o que pode tornar o diagnóstico e o tratamento mais complexos.

Tratamento e Manejo da Tontura Pós-COVID-19

A tontura pós-COVID-19 pode ser gerenciada e tratada através de várias abordagens que visam melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Reabilitação Vestibular

A reabilitação vestibular é uma forma especializada de fisioterapia focada em melhorar os problemas de equilíbrio e reduzir a tontura. Os exercícios de reabilitação vestibular incluem movimentos específicos da cabeça e do corpo que ajudam a estimular o sistema vestibular, promovendo a adaptação e compensação das funções vestibulares. O treinamento de equilíbrio, que envolve atividades como caminhar em linha reta ou manter-se em pé sobre uma perna, também faz parte do tratamento. Ainda, exercícios oculares são utilizados para estabilizar a visão e reduzir a sensação de vertigem.

Medicamentos

Diversas classes de medicamentos podem ser usadas para tratar os sintomas de tontura. Antivertiginosos são utilizados para aliviar a vertigem, enquanto antieméticos ajudam a tratar náuseas e vômitos que frequentemente acompanham a tontura. Em casos de inflamação severa do nervo vestibular, corticosteroides podem ser prescritos para reduzir a inflamação. Esses medicamentos trabalham juntos para proporcionar alívio dos sintomas e melhorar o bem-estar do paciente.

Mudanças no Estilo de Vida

Fazer ajustes no estilo de vida pode ser extremamente benéfico para gerenciar a tontura pós-COVID-19. Manter-se bem hidratado é crucial para evitar tonturas causadas por desidratação. Uma dieta balanceada, rica em nutrientes, e evitar o consumo excessivo de cafeína, álcool e sal podem ajudar a reduzir os sintomas. Garantir um bom descanso e sono adequado também é essencial, pois a fadiga pode agravar a tontura. Adotar um estilo de vida saudável e equilibrado pode fazer uma diferença significativa no manejo dos sintomas.

Apoio Psicológico

A tontura persistente pode ter um impacto significativo na saúde mental, causando ansiedade e estresse. Por isso o apoio psicológico é uma parte importante do tratamento. A terapia cognitivo comportamental (TCC) pode ajudar os pacientes a desenvolver estratégias eficazes para lidar com a ansiedade e o estresse associados à tontura. Participar de grupos de apoio também pode ser útil, proporcionando um espaço para compartilhar experiências e receber suporte emocional de outras pessoas que enfrentam problemas semelhantes. O apoio psicológico pode melhorar a resiliência emocional e a qualidade de vida dos pacientes.

Conclusão:

A tontura pós-COVID-19 é uma condição complexa e multifacetada que pode persistir por semanas ou até meses após a recuperação da infecção inicial. Assim, compreender suas causas e desenvolver um plano de tratamento eficaz é essencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados. As abordagens incluem reabilitação vestibular para fortalecer o sistema de equilíbrio, uso de medicamentos para aliviar os sintomas, mudanças no estilo de vida para promover a saúde geral e apoio psicológico para lidar com o impacto emocional da tontura. Dessa forma. com uma combinação dessas estratégias, é possível gerenciar os sintomas de forma eficaz e ajudar os pacientes a recuperar seu bem-estar e funcionalidade diária.

 

Leia mais:

Guia Completo Sobre Tontura: Causas, Sintomas e Tratamentos

Escrito por Dr. Douglas Ribeiro

Otorrinolaringologista. com foco no tratamento da tontura e zumbido
CRM-SP 163.108 / RQE 67.472

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